Entretanto, eu não posso (não devo, não quero e não vou) esquecer que eu faço parte de um grupo específico de mulheres: as mulheres negras. E estar neste grupo me dá embasamento suficiente para falar por mim e por todas as minhas semelhantes.
- Desde a infância, não se ver representada na TV, no cinema, nas revistas, nos brinquedos, fazendo com que o conceito de beleza seja construído de forma distorcida;
- Desde a infância, odiar o próprio cabelo e lutar durante anos (ou por uma vida inteira) para se enquadrar em um padrão. E frequentemente sem nem se dar conta disto;
- Ser altamente elogiada ao alisar o cabelo e, em contra partida, ser alvo de olhares espantosos (não no bom sentido do espanto) quando resolve assumir o cabelo natural;
- Na adolescência, e talvez na fase adulta também, ser apaixonada pelo guri negro que só tem olhos para as gurias loiras e ter vergonha dos guris brancos por achar que não está "à altura" deles;
- Ver a relação "carnaval>samba>mulata>corpo exposto>cultura inútil de divertimento" ser ano após ano reprisada;
- Ser hiper sexualizada pelos homens, reforçando frequentemente a ideia de que a mulher negra serve para dar prazer;
- Ouvir pessoas brancas e (PASMEM!) negras também, dizendo que todos os itens citados acima são inverdades, exagero e vitimismo!
Há ainda o agravante de ser uma mulher negra no Rio Grande do Sul, também os privilégios de ser uma mulher "negra clara", e uma infinidade de situações não citadas aqui, mas isto é assunto pra outro post.
O que posso dizer é que uma vida inteira de baixa auto-estima é difícil de ser superada, mas que se reconhecer e se redescobrir através da nossa história é um sentimento impagável, e que uma vez alcançado, ninguém pode nos tirar.
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