Episódio 1
(parte 1):
Fui na
pracinha do condomínio com o meu filho e ele se encantou pelas panelinhas de
uma criança que estava brincando lá. Pra alegria dele, a guriazinha estava
interessada em outras brincadeiras, por isso não se importou de deixá-lo
brincar com as panelinhas dela.
Uma outra
guriazinha, acho que com uns 3 anos, se aproximou e começamos um diálogo:
- Não pode!
Eu achei
que ela estava defendendo os brinquedos da amiguinha, então falei:
- Ah, tudo
bem. Ela emprestou pra ele!
Mas ela
insistiu, desta vez explicando o porquê:
- Não pode!
É de menina!
E eu, já
rindo por dentro com a oportunidade, disse:
- Pode sim,
é de menina e de menino!
Ela
insistiu mais uma vez, com o mesmo argumento, e eu fui na onda dela:
- Pode sim!
É de menino também!
Ela me
olhou, olhou meu filho enchendo e esvaziando uma panelinha cor de rosa, e
cedeu:
- É, pode
né?
- Pode. –
eu concluí.
E ela saiu
pra continuar sua brincadeira.
Episódio 1
(parte 2):
No outro
dia do ocorrido na pracinha, conversando com uma amiga no whats app, falei que eu ia ter que comprar umas panelinhas para o
meu filho, porque ele havia se encantado pelas panelinhas de uma guriazinha.
- Panelas?
- perguntou ela.
- Sim, de
brinquedo.
- Compra
balde, tipo de praia.
- Por que
não pode ser panela?
- Ah, sei lá,
menina... kkk! Cada um, cada um...
- Sorry!
Pra mim não existe brinquedo de menino e brinquedo de menina... exato, cada um,
cada um...
Ela logo
mudou de assunto, então acabei nem argumentando.
Uns dias
depois veio a hashtag
#meuamigosecreto e eu usei o exemplo dela para uma publicação no Facebook, sem citar seu nome, é claro.
Ela me
chamou no whats app e conversamos um
pouco sobre o assunto. Expus um pouco da minha opinião, ela expôs um pouco da
dela, e ficamos por aí.
Episódio 2:
Fui buscar
meu filho na casa da minha mãe e cheguei com um conjunto de vassoura, rodo e pá
de brinquedo pra ele. Já fazia um tempo que ele não me deixava varrer a casa
sem estar atrás de mim tentando puxar a vassoura.
Minha mãe:
- Ah, que
legal! Não tinha outra cor, filha? – o conjunto é rosa com detalhes roxos.
- Por que
mãe?
E ela já
rindo:
- Ah, não
sei... preconceito...
- Nada a
ver essa coisa de cor mãe. E não, não tinha outra cor, e eu não ia deixar
de comprar por causa disso.
Na verdade
não sei se ela encarou só a cor como equivocada, o “legal” dela não me pareceu
muito animado...
Notaram que
as pessoas envolvidas nestas histórias tem idades completamente diferentes?
A
guriazinha da pracinha, uns 3 anos, minha amiga, 32, e minha mãe, 61.
Quase 30
anos de diferença entre cada uma delas, e pensamentos muito parecidos.
Outro
detalhe: todas mulheres! Mulheres gente!
Mulheres
que, em função deste tipo de conceito, carregam os afazeres domésticos nas
costas, enquanto o companheiro assiste futebol.
Mulheres
que não descansam no final de semana e na segunda-feira voltam pro trabalho já
exaustas, por não terem conseguido descansar em função da grande quantidade de
lava-limpa-arruma do sábado e domingo.
Mulheres
que pensaram/pensam milhares de vezes em desfazer seus relacionamentos porque
seus companheiros simplesmente não colaboram.
Mulheres
que, com o passar do tempo, tornam-se mais mães do que amantes de seus
companheiros, porque eles insistem em continuar se comportando como
adolescentes: meia debaixo da cama, prato no sofá, horas à fio jogando vídeo
game enquanto a casa está do avesso...
Acho que eu não me
encaixo muito neste tipo de mulher... Louça na pia não me impede de tirar uma
sonequinha após o almoço, ou de simplesmente não fazer nada.
O que eu
quero dizer é que, se a casa estiver arrumada, que o mérito seja dos dois, do
casal. Mas se a casa estiver uma bagunça total, a responsabilidade, ou falta
de, é dos dois também.
E não
importa se pra ti limpeza e organização são prioridades, ou se são coisas
secundárias, apenas seja coerente na educação dos teus filhos, tanto dos guris quanto das
gurias.
Se pra ti é
muito importante saber cozinhar, faxinar a casa uma vez por semana, e ter cada
coisa em seu lugar, vá ensinando isso aos seus filhos, desde pequenos, sem
obrigação nenhuma, na base da brincadeira mesmo.
Mas se pra
ti, o importante mesmo é aproveitar a
vida vendo um filme, descansando, passeando, e na casa dá-se um jeito quando a
vontade vier, permita que seus filhos desfrutem disso com contigo.
Dê pro teu
filho exemplos das coisas que tu acredita!
Não adianta
se queixar que faz tudo sozinha em casa e botar a guria pra lavar louça
enquanto o guri navega na internet!
Não adianta
se queixar que o companheiro não “ajuda” com as crianças e não deixar teu filho
chegar perto de bonecas!
Não adianta
se queixar por se sentir uma empregada
na tua própria casa e arrumar a cama, fazer o Nescau e a torrada do teu
filho e entregar pra ele na frente do computador todo santo dia!
Tem um
montão de coisas deste tipo enraizadas na nossa educação, na nossa cultura.
Vamos mudar
isso? Veja nos teus filhos
a oportunidade de fazer diferente!