terça-feira, 22 de março de 2016

Mãe de um guri negro...

Ser mãe de um guri negro é ter medo.

- Eu temo por saber que ainda bebê, sem nem mesmo entender, ao ter fotos suas mostradas aos conhecidos da mãe, do pai, ou das avós, ele não irá receber um único elogio, porque há pessoas incapazes de enxergar beleza em uma criança negra;


- Temo por saber que na escola, quando ele estiver com seu lindo black pro alto, a professora vai enviar um bilhete pra casa solicitando que o cabelo dele seja cortado, por estar atrapalhando a visão dos colegas, ou porque este tipo de corte/penteado "exótico" não é aceito na escola;


- Temo por saber que quando ele estiver num grupo de colegas brancos, uma guria branca vai se aproximar deles e cumprimentar cada um com um beijinho no rosto, exceto o meu filho, que vai receber apenar um oi à distância;


- Temo por saber que se ele vier a namorar uma guria branca, seus sogros serão contra o namoro e farão de tudo pra que um dos dois desista da relação inter-racial;


- Temo por saber que se ele vier a ter filhos com uma mulher branca, ela vai falar todos os dias durante a gravidez que está rezando para que a criança não saia com o nariz grande e largo dele;


- Temo por saber que se ele vier a ter filhos "clarinhos" com uma mulher branca, meus netos vão crescer tentando ser convencidos pela minha nora de que eles são brancos; ou


- Temo por saber que se ele vier a ter filhos "escurinhos" com uma mulher branca, meus netos serão menosprezados pela família materna por não serem brancos como seus priminhos;


- Temo por saber que quando ele for ao supermercado, será seguido pelo segurança do estabelecimento por cada corredor que ele ingressar;


- Temo por saber que ao passar ao lado de uma madame, ela vai atravessar a rua com pressa segurando sua bolsa com força contra o corpo;


- Temo por saber que ele vai ser inúmeras vezes violentamente abordado pela polícia, e que em uma destas abordagens, ele vai ser preso e reconhecido pelas vítimas como o pivete negro que assaltou mulheres na rua.



É claro que eu não tenho como afirmar que todas estas coisas vão acontecer com meu filho, e é claro que eu torço pra que não ocorram, mas há grandes chances de que a maioria delas aconteça.

Espero ter muita força para conseguir orientar e amparar meu filho em momentos como estes.

Obs.: Tudo o que eu citei acima é baseado em acontecimentos reais, presenciados por mim, relatados por conhecidos, ou divulgados na mídia. (EU NÃO EXAGEREI!)

terça-feira, 15 de março de 2016

Ainda sobre o mês da mulher... E a mulher negra?!

É fato que, de forma geral, as histórias das mulheres são muito semelhantes. E isto só reforça o meu discurso de que precisamos sim nos unir.
Entretanto, eu não posso (não devo, não quero e não vou) esquecer que eu faço parte de um grupo específico de mulheres: as mulheres negras. E estar neste grupo me dá embasamento suficiente para falar por mim e por todas as minhas semelhantes.

Ser uma mulher negra é:

- Desde a infância, não se ver representada na TV, no cinema, nas revistas, nos brinquedos, fazendo com que o conceito de beleza seja construído de forma distorcida;


- Desde a infância, odiar o próprio cabelo e lutar durante anos (ou por uma vida inteira) para se enquadrar em um padrão. E frequentemente sem nem se dar conta disto;


- Ser altamente elogiada ao alisar o cabelo e, em contra partida, ser alvo de olhares espantosos (não no bom sentido do espanto) quando resolve assumir o cabelo natural;


- Na adolescência, e talvez na fase adulta também, ser apaixonada pelo guri negro que só tem olhos para as gurias loiras e ter vergonha dos guris brancos por achar que não está "à altura" deles;


- Ver a relação "carnaval>samba>mulata>corpo exposto>cultura inútil de divertimento" ser ano após ano reprisada;


- Ser hiper sexualizada pelos homens, reforçando frequentemente a ideia de que a mulher negra serve para dar prazer;


- Ouvir pessoas brancas e (PASMEM!) negras também, dizendo que todos os itens citados acima são inverdades, exagero e vitimismo!


Há ainda o agravante de ser uma mulher negra no Rio Grande do Sul, também os privilégios de ser uma mulher "negra clara", e uma infinidade de situações não citadas aqui, mas isto é assunto pra outro post.

O que posso dizer é que uma vida inteira de baixa auto-estima é difícil de ser superada, mas que se reconhecer e se redescobrir através da nossa história é um sentimento impagável, e que uma vez alcançado, ninguém pode nos tirar.

terça-feira, 8 de março de 2016

8 de Março: Dia Internacional da Mulher - Desmistificando (Post Inaugural!)

Oi!
Meu nome é Thais, e este é meu post inaugural!
Decidi hoje (8 de Março de 2016) que queria escrever sobre algumas coisas e compartilhar por aí...
E em função da data, nada mais apropriado do que escrever sobre o tema MULHER.
.
.
.
O universo feminino é rodeado de mitos tão primitivos que nem parecem verdade, mas são!
Abaixo, cito dois que ainda estão bem vivos por aí.

MITO 1: Mulher Maravilha!

Definitivamente, não somos mulheres maravilhas!
Frequentemente, principalmente no dia de hoje, nós mulheres nos deparamos com mensagens nos enaltecendo e homenageando pela árdua façanha de conciliarmos SOZINHAS: trabalho, estudo, rotina doméstica, cuidados com os filhos e, de quebra, nos mantendo lindas, magras, bem vestidas e maquiadas!
Vamos desmistificar umas coisinhas por aqui?
Primeiro – A descrição citada acima, está muito mais pra personagem de novela da Globo do que pra vida real! Vocês têm noção do quanto esta falsa imagem da mulher que dá conta de tudo (do alto do seu salto 15!) pode ser motivo de frustração para a grande maioria que, em situações estremas, mal consegue dar conta de coisas básicas como escovar os dentes, tomar banho e arrumar os cabelos?
Segundo – Este mito da “mulher heroína” só reforça o pensamento de que não precisamos de apoio, companheirismo, e de compartilhamento das responsabilidades, quando na verdade estamos sedentas por isto! É verdade que são muitos os exemplos das mulheres que “dão um jeito” pra tudo, mas muito provavelmente isto não se dá por desejo, e sim por necessidade! E isto lhes custa sanidade psicológica, bem estar físico, auto estima, entre tantas outras coisas.

MITO 2: Eternas Rivais!

Consciente ou inconscientemente, crescemos acreditando que devemos competir umas às outras. Em tudo, e o tempo todo!
Estamos sempre competindo pela atenção de alguém: dos nossos pais, nossos professores(as), nossos amigos(as), nossos chefes, nossos namorados/maridos... E por motivos igualmente diversos: vaidade, afirmação, aceitação, ascensão profissional...
O que nós esquecemos, ou demoramos um pouco para nos dar conta, é que, de uma forma geral, estamos todas no mesmo barco! A grande maioria de nós compartilha de histórias muito semelhantes: assédios, relacionamentos abusivos, sobrecarga de atividades, desvalorização profissional, etc.
Minha mãe sempre diz que "Homem é raça unida, já as mulheres...".
Já não está mais do que na hora de mudar isso?
A grande palavra aqui (e em TUDO na vida) é EMPATIA!
Sempre que rolar aquela vontade incontrolável de competir ou julgar uma de nós, vamos, por 30 segundos, inverter o jogo, nos colocando no lugar da mulher em questão, nos enxergando naquela posição. É muito provável que nossa ação a seguir mude de direção.

Por hoje é isso!
Que nós mulheres possamos continuar lutando nossas batalhas juntas, unidas! E que os próximos '8 de março' tenham a cada ano mais motivos de comemoração!


Obs.: Não sou e nem tenho a intenção de ser dona da verdade! Muito do que eu escrevi aqui ainda está sendo desconstruído e reconstruído de formas diferentes em mim, aos poucos, como em uma desintoxicação, só que psicológica. Então, relaxa!